Padre é acusado de preconceito religioso ao batizar bebê no RJ
UUm casal denunciou à polícia um caso de suposto preconceito religioso ocorrido durante o batismo da filha, a pequena Yaminah. Eles acusam o padre Wagner Augusto, da paróquia Santos Anjos, no Leblon, Rio de Janeiro, de ter se recusado a pronunciar o nome da criança durante a cerimônia, realizada no último dia 16. Segundo os pais, o motivo seria a associação do nome a tradições afro-brasileiras.
O que significa o nome Yaminah?
O nome Yaminah tem origem árabe e hebraica e carrega significados positivos. Em árabe, deriva de “Yamin”, que significa “lado direito”, “abençoada” ou “afortunada”. A mão direita é frequentemente associada a força, sorte e bênçãos na cultura árabe. Já na tradição hebraica, pode ser relacionado a “confiança” e “fé”.

A polêmica surgiu porque, segundo a Arquidiocese, o nome poderia ser confundido foneticamente com “Iamins” ou “Iyamis”, termos ligados a tradições de matriz africana, como o Candomblé, que podem remeter a entidades ou divindades.
A versão dos pais sobre provável preconceito religioso: “Ele não falava o nome dela”
David Fernandes e Marcelle Turan, pais da criança, relataram que, antes mesmo da cerimônia, o padre os orientou, afirmando que o nome Yaminah não era cristão e poderia ser confundido com termos de religiões de matriz africana. Ele teria sugerido usar o nome composto “Maria Yaminah”, o que foi recusado pelo casal.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um trecho da cerimônia onde o padre se refere à bebê apenas como “a criança” ou “a filha de vocês”. “Ele não falava o nome dela de jeito nenhum. E no momento mais importante, que é quando você joga água na cabeça, você fala ‘eu te batizo, o nome da criança’, ele não falou”, afirmou a mãe.
O casal registrou o caso na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) como preconceito por raça, cor ou religião.

A defesa da Arquidiocese: “O nome foi dito”

A Arquidiocese do Rio de Janeiro, por meio de seu assessor de imprensa, padre Alan Galvão, defendeu a atuação do sacerdote e afirmou que o batismo foi válido e seguiu todas as normas litúrgicas. “O nome foi dito nos momentos que lhe eram devidos, sem exceção”, declarou.
Segundo a Arquidiocese, a orientação prévia do padre foi um “ato de caridade e cuidado pastoral”, visando ajudar a família a compreender a importância do nome na vida cristã. O Código de Direito Canônico, no Cânon 855, orienta que “os pais, padrinhos e pároco cuidem para que não seja imposto nome estranho ao sentido cristão”.
Sobre o vídeo, o padre Galvão explicou que se trata de um corte e não mostra a cerimônia completa. “A ausência de menção visível ao nome não significa que ele não tenha sido corretamente pronunciado”, disse, afirmando que a má interpretação do trecho gerou confusão.
Em nota oficial, a Arquidiocese reforçou que “o ritual foi seguido fielmente, com o nome desejado pela família sendo devidamente pronunciado e registrado no livro paroquial”.
Investigação e próximos passos
Enquanto a família busca reparação na esfera judicial, a Arquidiocese afirmou que não comenta questões jurídicas em andamento, mas que confia no trabalho de seus sacerdotes e que está acompanhando o caso e dialogando com os envolvidos.
O caso levanta um importante debate sobre os limites entre a doutrina religiosa e o preconceito religioso. A polícia civil seguirá com a investigação para apurar se houve crime de intolerância durante a celebração do sacramento.
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